Por Marcio Serôa de Araujo Coriolano*
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Se fôssemos empilhar todos os dados que vêm sendo reunidos desde o século XVII, nossos olhos não alcançariam a ponta final desse volume e sequer teríamos como mensurá-lo. Essa observação tão simples dá a dimensão exata do gigantesco salto dado pela tecnologia ao dispor informações relacionadas entre si para uso em benefício social e demandas econômicas. Estamos no tempo da colheita e utilização inteligente de tudo isso.
Mas, ao vislumbrar a imensa plataforma, percebemos que o grande desafio é saber responder corretamente às perguntas: usar em quê? Para quê? Como? As informações são fruto do tratamento dos dados – agregados ou fragmentados – para que possam aprimorar, mediante metodologias próprias, as finalidades de cada progresso desejado.
Como exemplo, tomemos a área médica e o setor de seguros. Ambos os campos se nutrem de bancos de conhecimento como matéria-prima de suas atividades. Na medicina, já contamos há décadas com as iniciativas para reunir os registros de prontuários eletrônicos que, associados a outros tantos e compartilhados de forma responsável, podem prevenir doenças e salvar vidas. Na área de seguros, acontece o mesmo já que prevenir e controlar riscos é, em muitos casos, poupar vidas também.
Embora, inversamente, iniciativas regulatórias nos seguros – como o SRO (Sistema de Registro de Operações) – podem ter o atributo de apenas multiplicar os dados, caso as informações que se pretende, e suas finalidades, deixem de ser definidas previamente.
A alavancagem impressionante da ciência, dos métodos estatísticos e da tecnologia da informação é uma feliz realidade. Desde que, claro, não prescinda da objetividade maior da sua utilidade – até porque, o Brasil é um país que não pode se dar ao luxo de despender recursos para experimentos sem propósito claro, definido e bem estruturado. Ou mesmo desperdiçar a oportunidade única de exercer criticamente o encontro das ciências com as necessidades da sociedade.
Temos experiência e gente preparada, ou seja, o principal. Vamos transformar dados em conhecimento e compartilhar com critério e segurança – na medicina, nos seguros e em várias outras áreas de produtos e serviços. De modo objetivo, racional e selecionado. Avaliações fidedignas se amparam em vastas pesquisas e, na esteira, geram segurança a quem vai decidir na ponta final, seja qual for o negócio.
Em obra seminal, o escritor argentino Jorge Luis Borges (1899/1986) imaginou uma fantástica biblioteca circular. Uma edificação contendo toda a produção literária universal, classificada em turbilhão infindável de todas as possibilidades de serem reescritas. Uma absurda utilidade sem utilidade alguma.
Caso esse circuito entre empilhamento de dados e suas utilidades não esteja bem integrado, restará a confusão improdutiva entre meios e finalidades. Ou seja, uma nova versão da biblioteca circular.
É o que parece estar acontecendo em determinados âmbitos com uma certa mania, e excessivo foco, em instrumentos digitais de inteligência artificial e captura de dados sem, entretanto, avaliação de sua importância e equilíbrio entre esforços e custos. Em vez disso, podemos usar as enciclopédias virtuais para pesquisa e tomada de decisões que façam diferença positiva na vida das pessoas, na sobrevivência das empresas e no rumo do país.
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*Marcio Serôa de Araujo Coriolano é economista e presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg)
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